segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SOLENIDADE COMEMORATIVA DE 57 ANOS OURO BRANCO

SESSÃO SOLENE DE 06 DE DEZEMBRO DE 2010

Senhoras e senhores, estudantes, familiares, autoridades presentes;
Boa noite!
Hoje, 06 de dezembro de 2010. É com grande prazer que iniciamos esta solenidade de titulação e entrega de certificados para comemorar os 57 anos de emancipação de nosso município.
Inicialmente pedimos a todos que se levantem para cantarmos o Hino Nacional Brasileiro.
Pedimos a todos que permaneçam de pé para ouvirem a letra, de José Bernardino Reis, de 1º de janeiro de 1954, para o hino comemorativo da criação e instalação do Município de Ouro Branco, à 12 de dezembro de 1953, lido pelo excelentíssimo Presidente da ACLOB Marco Antonio Cruz.

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OURO BRANCO, MUNICÍPIO TE TORNASTE
E AS HONRAS DE CIDADE MERECESTE.
SOBRE OS BRAÇOS DE TEUS FILHOS TE ELEVASTE;
FOI COM O ARADO E A ENXADA QUE VENCESTE.

ÈS COEVO DAS ENTRADAS E BANDEIRAS,
E PUDESTE ILUMINADO SER UM DIA
PELOS RAIOS FULGURANTES
DA AURORA RUTILANTE
DA LIBERDADE DA PÁTRIA, QUE SURGIA.

TEU PASSADO E TEU PRESENTE SE IRMANAM
E SE ENLAÇAM, AINDA, COM OS ANOS DO PORVIR...
ÉS PEQUENO, MAS, CONTUDO, TE UFANA;
DE MODELO PARA A PÁTRIA HÁS DE UM DIA SERVIR!

BELO TEMPLO DE ALTARES EXPLENDENTES
FOI, OUTRORA, AO SENHOR POR TI ERGUIDO
MILITOU ENTRE OS HERÓIS INCONFIDENTES
UM ILUSTRE BRASILEIRO AQUI NASCIDO.

SERÁS TÚ A COMUNA VENTUROSA,
ONDE SEMPRE HÁ DE REINAR SOMENTE DEUS.
CANTE TÔDA A TUA HISTÓRIA,
QUAL POEMA, A SUA GLÓRIA,
PELAS PRECES E LABOR DOS FILHOS TEUS.

TEU PASSADO E TEU PRESENTE SE IRMANAM
E SE ENLAÇAM, AINDA, COM OS ANOS DO PORVIR...
ÉS PEQUENO, MASA, CONTUDO, TE UFANA:
DE MODELO PARA A PÁTIRA HÁS DE UM DIA SERVIR!
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Muito obrigado.
Conforme o protocolo de presença, desejamos salientar a presença das seguintes personalidades e entidades:
João Miguel de Oliveira – Capelão do Colégio Batista Mineiro
Wagno Alves Bragança – Diretor do Colégio Batista Mineiro
Ildeu Ferreira – Secretário Municipal de Cultura
Célia Chilini – Secretária Municipal de Educação
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Neste momento cumpro o dever de pedir a platéia presente um minuto de silêncio pelo passamento de nosso confrade que ocupou a cadeira 16, cujo patrono é o ilustre Luís Vieira da Silva, Cônego Vieira, o Acadêmico Wigberto Lara Cesar.
(1 minuto)
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Farei um breve relato do desenvolvimento histórico da ACADEMIA DE CIÊNCIAS E LETRAS DE OURO BRANCO – ACLOB.

Idealizada pelo teatrólogo Marcoantonio Cruz
Foi criada em 24 de agosto de 2005, em uma sala da Secretaria Municipal de Educação, por Marcoantonio Cruz, Luiza de Marilac Couto de Oliveira, Elizabeti Márcia Félix Rodrigues Oliveira e José Arantes Filho.
Fundada em 02 de setembro de 2005, às 19 horas, no Teatro Dom Orione, tendo suas primeiras 13 cadeiras ocupadas.
Em 10 de setembro João Mauro Fernandes, Patrícia Guimarães Pena e Germano de Morais, criam a Biblioteca ACLOB
Em novembro de 2005, em parceria com a Coletivos Primavera a ACLOB lança o projeto “Poesia de Passagem” que faz circular pela cidade poesia afixada nos coletivos.
Em 1º de dezembro a Câmara Municipal autoriza a entidade a utilizar o Brasão do município em nossos documentos e vestes.
Em 3 de dezembro são reunidas as primeiras peças do Museu de Arte e Ciências da ACLOB.
No dia 07 de dezembro de 2005, iniciando as comemorações do cinquenqüagéssimo segundo aniversário de emancipação política de Ouro Branco, 12 de dezembro, data que será permanentemente lembrada e enaltecida pela nossa entidade; o Presidente Interino da Academia Mineira de Letras, o Acadêmico Miguel Augusto Gonçalves de Souza, em solenidade na Capela da Fazenda Pé do Morro dá posse aos ilustres membros da Academia de Ciências e Letras de Ouro Branco.
A partir desta data passamos a estreitar relações com outras Academias e entidades afins.
O “Poesia de Passagem” ganhou novas edições.
Ao nosso grupo são incorporados outros acadêmicos
É idealizada a Folha Acadêmica.
E em 14 de abril de 2007 é idealizado por Everton Paula Vieira, José Arantes Filho e Marcoantonio Cruz o I Concurso de Prosa e Poesia Estudantil Cidade de Ouro Branco.
A entrega dos certificados de participação no I Concurso de Prosa e Poesia Estudantil “Cidade de Ouro Branco” aconteceu , dia 27 de outubro, às 19:30 h, no Auditório Fernando Oliveira .

No edital de 2008 o Concurso de Prosa e Poesia Estudantil “Cidade de Ouro Branco” é transformado em Concurso Literário “Cidade de Ouro Branco” com as distintas categorias: Categoria Estudantil – para estudantes de todas as redes de ensino da cidade de ouro branco, e Categoria Nacional para todo cidadão ourobranquense, exceto seus estudantes e todo cidadão brasileiro residente no país.
Depois de enfrentar muitas dificuldades que quase impediram sua permanência, a ACLOB, retoma suas atividades em 2010 a partir da realização do III Concurso Literário “Cidade de Ouro Branco” e preparando um 2011 profícuo de realizações.
Hoje todos os presentes podem conosco olhar para atrás, gratos, sabendo que direta ou indiretamente ajudamos a escrever e a reescrever uma história de valor, agradecido a todos que acreditavam e acreditam, estiveram e estão dedicando tempo e esforços na transformação deste sonho em realidade.
Muito obrigado!
(Aplausos)
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Para compor a Mesa de Honra Junto ao Presidente da Diretoria Executiva Marco Antonio Cruz, o Vice-Presidente José Alberto Pinto de Sá e o Presidente Interino do Conselho Superior José Arantes Filho; convido o Secretário Municipal de Cultura Ildeu Ferreira e a Secretária Municipal de Educação Célia Chelini
Neste momento daremos posse a um novo membro desta casa
Para a entrega do Diploma convido
Presidente Interino do Conselho Superior da ACLOB – O Poeta José Arantes Filho
Para a entrega da Estola Convido
O Vice-Presidente da Diretoria Executiva da Aclob – Membro da Academia Mineira Maçônica de Letras José Alberto Pinto de Sá
_
Para ocupar a cadeira nº 19, da ACLOB,que tem como patrono o Ilustre ESCRITOR ARIANO SUASSUNA, convidamos para receber seu diploma, a estola, e fazer o juramento o cronista WILSON VILELA
(Recebe estola e Diploma - faz Juramento)
Prometo trabalhar pelo engrandecimento da Academia de Ciências e Letras de Ouro Branco, tudo fazendo para preservar as suas mais lídimas tradições e a pureza do idioma nacional. Prometo exercitar continuamente o trato das letras, em todas as suas formas, e bem assim, observar o seu Estatuto, o Regimento Interno e as suas Resoluções e acatar as decisões do Conselho Superior e da Diretoria Executiva. Prometo por fim estar presente ás reuniões da Academia, participar ativamente dos seus trabalhos, cumprir com as minhas obrigações e tudo fazer para o seu aprimoramento e o seu engrandecimento. Assim Deus me ajude.
Pode o Confrade se dirigir a platéia presente.
(2 minutos) (aplausos)
O Acadêmico Wilson Vilela tem agora 6 meses, para fazer uma palestra nesta casa em reverencia ao ilustre Ariano Suassuna, e um ano para nos entregar um trabalho escrito.
Porque nos tornamos imortais?
Porque temos dedicado nossas vidas ou parte delas às letras e ou às ciências em Ouro Branco sempre trabalhando em prol do desenvolvimento humano.

Passamos agora a SOLENIDADE DE ENTREGA DOS CERTIFICADOS DE PARTICIPAÇÃO E PREMIAÇÃO NO III CONCURSO LITERÁRIO “CIDADE DE OURO BRANCO”.

No Segundo Concurso Literário “Cidade de Ouro Branco” foi agraciada com o primeiro lugar a escritora Matha Faria Fernandes com a poesia “Minas Gerais” que agora lhes apresentamos.

PELOS CLARÕES DO OURO DE MINAS GERAIS,
ENTRE AS SERRAS INGREMES E DISTANTES,
NOS MISTÉRIOS DA NATUREZA, OS SINAIS
ENGASTADOS EM RÉSTIAS DE BRILHANTES
MULTIFORMES CORES QUE A MÁGICA NATUREZA
OFERECE MINERAL TESOURO ENRAIZADO,
TRANSPARENTE, DE INFINITA E RARA BELEZA
ONDE O BRILHO DO SOL É ESPELHADO.

NA CALADA DA NOITE DE MINAS GERAIS,
ADORMECEM ANJOS ESCULPIDOS, SAGRADOS...
NOS INTERIORES DOS TEMPLOS E NOS PORTAIS,
IMAGENS RETRATAM GÊNIOS GUARDADOS.

MINAS DOS RIOS NO VERDE DESLIZANDO,
FONTES, CIRCUITO DAS ÁGUAS MINERAIS,
RIO SÃO FRANCISCO, TRANSPORTE NAVEGANDO,
SERENAS EMBARCAÇÕES, ITINERÁRIOS NACIONAIS.

REDUTO A FULGURAR SONHOS DOS INCONFIDENTES,
MISTERIOSA FORÇA SILENCIOSA E RENHIDA,
HISTÓRIA, ASPIRAÇÕES, LIBERDADE, TIRADENTES,
DEMONSTRANDO RARA EXPERIÊNCIA VIVIDA;

ONDE AINDA TREPIDA ENTRE AS MÃOS DO ATLETA
O TREMULAR DA CHAMA, ACESA MENSAGEM,
A PIRA DO FOGO SIMBÓLICO SE ERGUE REPLETA
DE PATRIOTISMO, EMOÇÃO, CIVISMO E CORAGEM
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III CONCURSO LITERÁRIO CIDADE DE OURO BRANCO
Para entregar o certificado convidamos
José Arantes Filho e a Secretária Municipal de Educação Célia Chelini.
CATEGORIA PROSA NACIONAL
3º LUGAR – DA CIDADE DE BELO HORIZONTE/ MG - COM O TRABALHO - A CEBOLA E A VIDA – REUBER LANA ANTONIAZZI
2º LUGAR – DA CIDADE DE ITAJUBÁ/ MG – COM O TRABALHO - UMA QUESTÃO DE ESQUECIMENTO - YVELUSE DE ARAÚJO QUEIROZ E CREPALDI – (justificou ausência)
1º LUGAR – DA CIDADE DE IPATINGA – MG – COM O TRABALHO - O CARPINTEIRO DO MAR – MARIA GORETTI DE FREITAS OLIVEIRA –
(Recebeu Certificado, a Escritora faz doação de seus livros Contos Interioranos e Num instante, um haicai à Biblioteca ACLOB engrandecendo nosso acervo)
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CATEGORIA POESIA ESTUDANTIL
PARA ENTREGAR O CERTIFICADO CONVIDAMOS
O Recém empossado Acadêmico Wilson Vilela e o Secretário Municipal de Cultura Ildeu Ferreira.
Convidamos para receber seu certificado de participação
ESCOLA MUNICIPAL NOSSA SENHORA DO CARMO
FERNANDA PATRÍCIA DE FARIA
LUCIANO PEREIRA DA SILVA
VÂNIA MARIA DA ROCHA
PEDAGOGA SANDRA COELHO MOREIRA
3º LUGAR – COM VIDA NA ROÇA - EDIVALDO CLEBER PASCOAL DE PAULA
2º LUGAR – COM ONDE MORO - ALINE EDVIGES MARTINS ROMÃO
1º LUGAR –COM DESCOBRINDO O AMOR - CAMILA EDIANE DA SILVA DOMINGOS -
(A Escola Rural e Seus Alunos estão aqui representados pela Secretária Municipal de Educação Célia Chelini)
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CATEGORIA POESIA NACIONAL
5º LUGAR – DA CIDADE DE – CAMPO GRANDE – RJ – COM MINHA NETA – DILMA BARROZO RIBEIRO LOPES
4º LUGAR – DA CIDADE DO – RIO DE JANEIRO – RJ - COMDESVENDANDO – MÁRCIA DA COSTA BARROSO
3º LUGAR – DA CIDADE DE CAMPO GRANDE – RJ – COM SIMBIOSE – DILMA BARROZO RIBEIRO LOPES –
2º LUGAR – DA CIDADE DE CAMPINAS - SP - COM ASAS PARTIDAS - LAÉRSON QUARESMA DE MORAES –
1º LUGAR – DA CIDADE DE TIETÊ - SP – COM RELICÁRIO DE UM VESPERTINO – DULCE ANA DA SILVA FERNANDEZ – (ausências justificadas por e-mail)
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CATEGORIA POESIA ESTUDANTIL
Para entregar o certificado convidamos
O Sr. José Alberto Pinto de Sá
Convidamos para receber seu certificado de participação :
COLÉGIO BATISTA MINEIRO – UNIDADE OURO BRANCO aqui representado por seu Diretor Wagno Alves Bragança
REBECA SEABRA DE OLIVEIRA aqui representada pelo Capelão João Miguel de Oliveira.
PROFESSORA MARIA TEREZA TÔRRES DE MIRANDA ESTEVAM (pres.)
3º LUGAR – FAÇA DIFERENTE - ÉMILE MOURA COELHO DA SILVA (pres.)
2º LUGAR – SINCERIDADE - HELENA PEREIRA OLIVEIRA – (pres.)
1º LUGAR – AS QUEIMADAS EM OURO BRANCO - EDUARDA XAVIER BARBOSA (pres.)
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TODOS VOCÊS JOVENS ESCRITORES e a ESCRITORA MARIA GORETTI DE FREITAS OLIVEIRA SÃO HERÓIS, HOJE AGRACIADOS POR AQUELES QUE DESEJAM PREPARAR UM CAMINHO PARA VOCÊS TRILHAREM COM MAIS FACILIDADE DO QUE O QUE NÓS ENCONTRAMOS. QUE CADA CERTIFICADO AQUI ENTREGUE FIQUE COMO UM MARCO DO ESFORÇO QUE DEVE PERMANECER PARA ENGRANDECER NOSSA LÍNGUA PÁTRIA.
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SAUDAÇÃO AO CINQÜENQUAGÉSSIMO SÉTIMO ANIVERSÁRIO DA CIDADE

CAMINHOS DE OURO BRANCO

A pequena cidade do interior de Minas Gerais é testemunha natural de muitos fatos históricos, Ouro Branco é ponto de confluência do Caminho Velho, que partia de Paraty (Rj) e do Caminho Novo que partia da cidade do Rio de Janeiro até Vila Rica (atual Ouro Preto).
Aos pés da Serra do Ouro Branco e às margens da Estrada Real, a cidade que já passou por vários ciclos econômicos como o do ouro, o da uva, o da batata, hoje vive o ciclo do aço sendo sede de uma das maiores siderúrgicas do mundo. Entretanto a presença da indústria não é prejudicial a quem procura a tranqüilidade já que a empresa se situa bem distante do centro urbano, e ao mesmo aufere suas benesses.
Aquele que visitar a cidade pode desfrutar de belezas naturais como observar o pôr-do-sol do alto da serra e a própria beleza da montanha, sua fauna e flora diferentes do convencional, pode ainda, visitar antigas fazendas espalhadas pela zona rural, algumas ainda com antigos engenhos de açúcar, carros de boi, monjolos ou moinhos seculares.
Os aventureiros tem a opção de escalar as escarpas da serra ou de se embrenharem pela mata à procura de antigas ruínas de fazendas e outras construções que insistem em se manter de pé confrontando a passagem dos séculos e estimulando a mente dos visitantes a decifrar seus mistérios escondidos sob tantas pedras e raízes que parecem manifestar a intenção da natureza de apagar as marcas de um passado escravo. Há também trilhas perdidas pela mata, trechos originais da Estrada Real, onde o visitante mais atento ouve ainda os cascos de cavalos dos tropeiros do século XVIII, fazendo uma viagem mágica pelo tempo.
Acadêmico Eventon de Paula Vieira – Secretário Conselheiro –

São entregues os Certificados ACLOB de Participação: à Secretaria Municipal de Cultura, Secretária Municipal de Educação, Prefeitura Municipal e Câmara Municipal de Ouro Branco.
O Presidente ACLOB – Marcoantonio Cruz esclarece que os trabalhos dos Concursos anteriores e alguns trabalhos de Acadêmicos já estão postados no blog http://aclob.blogspot.com e que os trabalhos do III Concurso Literário serão disponibilizados a partir de 15 de dezembro deste ano.
As lâminas do projeto “Poesia de Passagem” . “Folha Acadêmica” e o volume da “Antologia Cidade de Ouro Branco” serão enviados aos Premiados logo após sua publicação.
E que o Concurso Literário “Cidade de Ouro Branco” já começou a ser divulgado em Angola, Moçambique e Portugal o que deve gerar frutos na próxima edição.
Agradece a presença e encerra a reunião.

domingo, 5 de dezembro de 2010

PROSA NACIONAL - II CONCURSO - 1º LUGAR

TEMPOS.......

JOSÉ SAVIANO DE SOUZA – BELO HORIZONTE/Mg

Como habitualmente faço, hoje, ao acordar e ainda na cama, dei um clique no controle da TV.
Ao se abrir a tela, uma sorridente repórter anunciava:
_ “Daqui a cinco minutos, exatamente às 07h45min, começa a primavera, a estação das flores e da alegria.”
“Hoje, dia e noite terão exatamente a mesma duração, é o equinócio.”, completou o co-apresentador.
Mania besta esta de definir, limitar e matematizar tudo, pensei comigo.
Desliguei o aparelho, mas não o pensamento...
No princípio havia o tempo. Um tempo indefinido, de um repetitivo contínuo e dentro dele, o homem, os animais e coisas, muitas coisas.
Sem muito que fazer, esse resolveu brincar com o tempo, dividindo-o em antes e depois. Não vendo utilidade no antes, tomou o depois, dividiu-o, subdividiu-o, agregou partes e estava criado o calendário, do qual passaria a ser refém.
Aquele exatamente revolveu meu cérebro, o que me levou aos tempos de criança, quando as coisa eram aquilo que eu via, sentia ou imaginava.
Tempos em que no meu vocabulário não constavam palavras como outono, inverno, verão ou primavera e exato para mim era apenas o que cabia nos bolsos ou barriga, daí um conceito elástico, sem limites precisos.
O tempo era o do frio, o do calor, o da chuva, o de plantar, o de cuidar e, sobretudo o de colher.
Se a erva secava, as folhas perdiam a cor e as minhas canelas e pés ressecavam e trincavam, era o tempo do frio, eu sabia. Tempo de penar para levantar cedo e de ir ao pasto ainda orvalhado buscar as vacas, mas também tempo de, à noite, assentar-me no rabo do fogão de lenha, comer biscoito frito e ouvir casos e causos, esses, o fermento da imaginação, as asas da fantasia. E como foram importantes aqueles momentos! – Existe ou não assombração? Será que tem bicho deste tamanho mesmo? É possível morar tanta gente num lugar assim? Como é que ele fez para não morrer? – estas e outras dúvidas levavam a perguntas e maquinações sem fim. Tempo de descobertas, de crescimento, tempo BOM.....
Se o sol castigava, era tempo de andar rápido sobre a areia escaldante da estrada para não queimar a sola dos pés descalços, mas era também tempo de nadar pelado no córrego e engolir piaba viva para aprender nadar. Tempo de aprendizagem, de derrubar mitos, tempo de CRESCIMENTO.......
Quando chegava o da chuva, este trazia o medo do raio e do travão, mas também o prazer de arrancar minhoca, pegar o anzol e aproveitar a água suja para fisgar os bagres assanhados pela enchente. Tempo de adaptações, de superações, de vitórias sobre a natureza, tempo SAUDOSO...........
Havia um tempo que era de alegria para adultos e crianças. Para os primeiros, tempo de preparar a terra, semear, cuidar da plantação e ficar na expectativa do fruto. Para as crianças, o verde macio da folhagem renovada e o agradável cheiro das flores era sinal de frutas abundantes e saborosas no campo e no cerrado. Era um tempo colorido e musical. Brindava a vista com uma profusão de cores e os ouvidos com uma suave sinfonia que ia do farfalhar suave das folhas novas e macias ao vento, passando pelo zum-zum;zum dos insetos até a algazarra da passarinhada em festa de acasalamento. Tempo de andar com o nariz arrebitado, inalando fundo cada perfume e sentindo antecipadamente o sabor que ele anunciava. Do quintal, vinha o cheiro da limeira, da laranjeira, da macaúba e da mangueira, numa gradação sutil e agradável. No campo o caju era o rei, sua floração era pressentida à distância enquanto a da mangaba só se deixava perceber bem de perto e pela manhã. Tempo de PRELIBAÇÃO...........
O cerrado era nosso pomar, concentrava quase tudo que se podia comer de frutas silvestres. Difícil às vezes distinguir os cheiros. Ali, no campo aberto ou de transição, imperavam a pitanga, a quina, o pêssego, o figo e o caju. Acolá, no mais fechado e sombreado, se achavam o bacupari, o araticum, a mama-cadela, o pequi, o araçá, a goiabinha, a gabiroba e outros que a memória já não consegue retirar do baú das lembranças. Tempo DELICIOSO..................
Enquanto qualificava assim o tempo, veio-me à memória o que diz o autor do livro de Eclesiastes: “Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.”
Mas quem controlaria esse tempo?
O homem arrogou a si o direito.
Controla o tempo de nascer e quer determinar quem e o que pode vir à luz. O tempo para morrer ainda lhe escapa ao domínio, mas tem buscado adiá-lo não só ampliando o tempo de curar, o que é louvável, mas até administrando o tempo para matar, com o pretexto de preservar a saúde e evitar a morte.
Se há um tempo para plantar, e um para arrancar, este tem prevalecido sobre aquele. Arranca-se sem critério e até sem necessidade, ao passo que se planta em beneficio de segmentos privilegiados.
Do tempo de derrubar e do de edificar também se tem abusado. As derrubadas enquanto beneficiam uns poucos, prejudicam a maioria. As construções não raro expressam poder, ostentação e megalomania, ao invés de simplesmente suprir uma necessidade do ser humano.
Tempo de DESOLAÇÃO?
Nem pensar!
O autor bíblico prevê também um tempo para ficar calado, e um para falar.
Hoje é tempo de saber que não se vive fora do tempo, que o tempo, apesar de poder ser mensurado, quantificado e qualificado não obedece a critérios matemáticos.
É tempo de deixar o conformismo, tempo de falar, de gritar.
Exatamente tempo de DENUNCIAR.....

PROSA NACIONAL - II CONCURSO - 2º LUGAR

SEQÜESTRO DA VELHINHA
CELSO POSSAS - NITERÓI /RJ

Pacheco não gostava das segundas-feiras. Acordava lamentando e só ia trabalhar por obrigação. Para ele, até poderiam suprimir esse dia do calendário ou simplesmente considerá-lo feriado ou coisa parecida.
Estava totalmente esgotado. O dia havia sido terrível e ele praticamente trabalhara o tempo inteiro em pé. Nem conseguiu chegar em casa a tempo de ver o Jornal Nacional pela TV. Ficaria, assim, sem saber de novas catástrofes pelo mundo, das dezenas de mortos em tiroteio no “complexo do alemão” e de mais outras importantes prisões de um grupo pela Polícia Federal, envolvendo roubalheira do patrimônio público por amigos do pessoal do Governo.
O barulho do telefone tocando insistentemente acordou Pacheco, completamente arriado em sua poltrona favorita e esperando acabar o horário político na TV, com o som inteiramente desligado. Parecia um zumbi.
• O que é! – Nem disse alô. Atendeu completamente sonolento e a voz totalmente aborrecida. Os olhos não chegaram a abrir de tão pesados.
• O caso é o seguinte , ó meu: Estamos com tua mãe e o pessoal não “ta” a fim de ter muito trabalho com ela. Entendeu?
Pacheco trocou o fone de um ouvido para o outro, endireitou-se na poltrona e perguntou ao sujeito de voz estranha, parecendo sem muita ou nenhuma instrução:
• Não entendi! Qual é mesmo o problema? Com quem deseja falar? – praticamente rosnou ao fone, chateado por ter sido acordado em plena noite de segunda-feira, seu pior dia da semana.
• È com você mesmo! A velhinha “ta” aqui e a liberdade dela vai custar vinte mil. Entendeu:
• Velhinha? – Aproveitou para enxugar a boca. Costumava dormir de boca aberta e até babar, quando tirava suas sonecas na poltrona.
• Sim, meu chapa! Sua mãe “ta” conosco e você vai ter que arrumar vinte mil para ela voltar. Agora entendeu?
• Mas....._ Pacheco gaguejou um pouco, trocou novamente a posição do fone no ouvido e, sem saber direito o que devia fazer, falou, com a voz também enrolada: -- Como vou saber que a velhinha é mesmo minha mãe?
• É a sua mãe, porra! Foi ela que nos deu o número do telefone e pediu para você “tirar ela” daqui o mais rápido possível. “Tá” apavorada e meus companheiros não “tão” muito pacientes. É bom arranjar o dinheiro depressa. – berrou o sujeito, estupidamente.
Pacheco notou a voz agressiva e meio pastosa do sujeito ao telefone e concluiu que estava bêbado ou drogado. Talvez os dois. Voltou à ligação.
• Bem, meu amigo, você sabe que é difícil arranjar dinheiro à noite. Os caixas automáticos só liberam seiscentos reais e não tenho praticamente nada aqui em casa. Aparentava grande ansiedade.
• O “pobrema” é seu, “cumpadre”! – A voz já demonstrava mudança de impaciência para agressividade total. Era um verdadeiro boçal.
• Mas... como vou conseguir o dinheiro? – Pacheco procurava ganhar tempo, com inteligência, enquanto pensava na melhor forma de sair da situação, sem futuras represálias.
• Olha, já “to” de saco cheio, cara! Vou acabar dando um tiro nos “cornos” da velhinha e amanhã você vai achar o resto do corpo numa lixeira, cheia de bichinhos.
• Tudo bem! Tudo bem! – Pacheco mostrava-se mais calmo para não irritar o sujeito ao telefone. Sempre ouviu falar que era preciso ter muita calma nas situações de seqüestro.
O sujeito foi claro e definitivo, enviando as instruções para o pagamento.
• Arruma o dinheiro com seus amigos ai do edifício e vai até a Rodoviária Novo Rio, na área de desembarque dos ônibus e espere no jornaleiro embaixo da escada rolante. Ta certo?
• Mas...... e a mamãe?
• Será libertada dez minutos depois. Fique frio – completou o sujeito, tentando transmitir confiança, mesmo sendo um ladrão vulgar, seqüestrador de velhinhas. – Sabia negociar muito bem! – pensou, com certo orgulho.
Um longo silêncio e Pacheco voltou a falar, com total cinismo:
• Bem, meu amigo, tenho uma proposta diferente para você. _ A voz de Pacheco era tranqüila e aparentava uma calma impressionante.
• Proposta? Que “porra” é essa, meu chapa? – O seqüestrador estava atônito com o rumo da conversa. – O cara “tava” nervoso “prá” burro e agora vinha propondo alguma coisa diferente. Que “tava” havendo? – tentou raciocinar, usando os pouquíssimos neurônios disponíveis.
• Uma boa proposta. – confirmou Pacheco, passando a dominar a situação.
• O que é? – O sujeito ficou completamente diferente, desconfiado
• Dou cinqüenta mil a você se trouxer minha mãe aqui no Leblon.
• Como é que é?
• Isso mesmo! Cinqüenta mil se aparecer com a velhinha aqui na Visconde de Pirajá.
• Mas.... você falou que não tinha como arrumar vinte e agora me oferece cinqüenta mil. “ta” de sacanagem?
• Não! Estou falando sério” Aliás, nunca falei tão sério em minha vida! – a Voz de Pacheco já havia voltado ao tom normal, mostrando um misto de ironia e segu8rança, típica do carioca.
• Pára de brincar, meu chapa! Vou acabar me aborrecendo e vou encher tua velha de bala. Não sabe com que “ta” se metendo!
• Fique tranqüilo! Não estou brincando! Dou cinqüenta mil para trazer minha mãe até o Leblon.
Um estranho silêncio no telefone. O sujeito provavelmente estaria pensando ou confabulando com seu s comparsas. Precisavam analisar o assunto com cautela.
• “Tá” certo! A gente leva a velhinha até ai.........mas tem de dizer porquê você mudaou tanto de posição, cara?
• Muito simples, seu babaca! Se você conseguir trazer minha mãe até aqui, dez anos depois que ela morreu, vai valer os cinqüenta mil.
A ligação caiu, repentinamente.

PROSA NACIONAL - II CONCURSO - 3º LUGAR . *3 Trab. Clas.

VÔO CEGO

RAIMUNDO NONATO ALBUQUERQUE - FORTALEZA/Ce

Em memória das vítimas do acidente aéreo de 08 de junho de 1982.

Amamos sonhos. Corpo de baile, razão de vida. Disciplina árdua, abstinência da gula, martírio transcendido em pura essência, em poesia dançada. Leveza... Ritmo, movimento... a mais perfeita concretização da música. O corpo instrumento da beleza. E a graça etérea, de sensualidade velada, que encantava a tantos, enfeitiçou irremediavelmente alguém, que soube se chegar. Compartilhar emoção foi conseqüência natural. E, quando veio a certeza do sentir junto, a surpresa acanhada, antiquada: uma delicada aliança, jóia de família, primor de ourivesaria selou as juras.
Planos, carinhos, conversas, silêncios. Almas misturadas à pele. Balé, entre delicado e frenético. Nas viagens, os corações trocados ansiavam reencontro. Ela no redemoinho dos aplausos, ele na espera ansiosa, olhar para o céu, consultar horários. Era o cisne, que ora adejava a tristeza em ondulações sutis, comovendo as platéias, ora selvagem, podia ser reconhecido lá no alto.
Amamos idéias. Por extenuante que fosse, o respeito à arte era maior. E nem cogitavam encerrar a promissora carreira. Dançaria até o fim. Ele era seu regresso. Sempre. Sempre: nunca dizer sempre. O cisne faz-se condor. A elegância se desmancha em catastrófica aterrissagem... Pesadelo.
Amamos corpos. Vivos ou mortos. Na morte ainda amamos os restos de amor. Até gatinhos põem as patas sobre os companheiros mortos em acidentes, como a suplicar que não os tiremos deles. Triste enterrar um ser amado. Alem dos limites da tristeza, o desespero de não ter o que enterrar. Perplexidade. Na mistura desordenada, sem dono, de ferro gente plástico carvão e desgraça, espalhados por quilômetros, algo humano precisava de nome para poder existir. Então, carne pele vísceras pêlos dentes ossos sangue urina bile esperma, forma separados e batizados de material humano. O trabalho de resgate durou vários dias, sob tempo ruim.
Amamos troncos. Parentes alucinados por meio tórax, maior fração distinguível entre pastas e postas putrefeitas. Consternação. Impossível reconhecer o não ser. Disputar em mais. Aves de rapina às avessas, repugnando o despojo.
Amamos ilusão. Ela dançaria ainda. Como sempre, causando frisson, acima da razão e a despeito dos fatos. A beleza não se extingue assim. Não era. E não chovia, e nada acabaria...
Amamos cabeças. Arcadas dentárias são boas pistas para o que já não é. Mas arcadas dentárias estão contidas em cabeças, e cabeças não havia.
Amamos mãos, vestígios que já forma de afagar, aquecer, dividir, escolher, servir, amparar... De praticar misérias também. Restar nenhuma. A não ser indiciadas por unhas, que contam histórias: personais, bem cuidadas, recatadas, discretas, ousadas, tímidas roídas... Padres e pastores a convencer sepultamento coletivo. Relutância. Desistir é nunca! Eles não sabem do amor imenso. Não sabem de nada! Querer a sua mulher. Sua... Dissolvida na montanha de carniça. Querer assim mesmo.
Amam-se embriões, prenúncio de vida. Pois na resignação, prenúncio da morte, amamos dedos. O sentimento se reduz, apura-se. Concentrado, como perfume. Da nauseabunda carnagem coletiva emerge um anular, apontando para cima. Delicadamente. Nele, a aliança, o grito de todas as doces memórias e a estranheza do alívio: enfim, identificada. Agora era chorar.

PROSA NACIONAL II CONCURSO - 3º LUGAR *

TIA ANÁLIA

MARIA APPARECIDA S. COQUEMALA- ITARARÉ/Sp

Jovem, tinha o corpo bem feito, o rosto gracioso, as covinhas se destacando quando ria. Vaidosa do corpo, da cultura e da inteligência. Mas, o tempo fluiu, os olhos precisaram de óculos, os cabelos, de tinta. Marcas da vida iam aparecendo nas faces, as covinhas graciosas se transformando em rugas... Importava-se, como se importam mesmo as mulheres, mas encarava-as como naturais sinais da passagem do tempo, nela, em todo o mundo, por mais que cirurgias e outros recursos viessem prorrogando a velhice visível.
Nos últimos anos, porém, a aparência a preocupava, desde que dera de observar nos velórios, tanto o morto como as ocorrências do momento. E daí também o desejo de explicação para as atitudes que a face dos defuntos parecia desencadear nas pessoas comuns, no geral, passantes de rua que iam entrando, formalidade nenhuma, quem quer que fosse o falecido, como atraídas pela morte ali concretizada em meio à dor e ao sofrimento.
E como era costume nas pequenas cidades, descobriam o véu que cobria discretamente a face dos mortos, por vezes crispada, por vezes deformada, ou com outras aparências que a morte dá aos que se vão. Faziam caras compungidas e comentários.
- Está feliz agora, está em paz...
_ Parou de sofrer, o coitadinho...
Ah, a Morte implacável, contra os que já não podiam protestar... ah, se pudessem... Como seria prazeroso matar a Morte...
Como se explicaria esse mórbido gosto popular pela apreciação dos pobres defuntos que já não podiam opinar sobre a exposição pública de suas caras? Simples curiosidade? Espanto perante um grande enigma? Consolo? Ainda bem que foi ele, não eu... Assim se perguntava tia Anália. E daí imaginar-se morta, ali estendida, os mesmos comentários. Coitadinha, enfim descansou, a pobrezinha...
Desrespeitoso, hipócrita, costume de gente atrasada, dizia ela.
Passando dos setenta, decidiu-se por se proteger conta a sanha dos curiosos dos velórios. Conversou com o marido, mais velho ainda: quando morresse, nada de exposição do corpo. Sua vontade ficaria expressa no documento já guardado no escritório. O homem riu, mas prometeu cumprir, lhe fosse dado o privilégio de ir depois dela.
Mais anos rolaram. No dia em que o cardiologista recomendou: cuidado, melhor não dormir sozinha, Anália pensou no que aconteceria se morresse dormindo... Assim, simplesmente, em pleno sono, viaja-se desta para a outra vida, acorda-se nela, sem mala (ou seria lenço?) nem documentos, como o dizia a canção? E acordar onde? No céu, no inferno, ou em lugar nenhum, morreu, acabou? Não, a morte não aconteceria assim para ninguém. A mente não entregaria fácil a rapadura, ou melhor, o corpo, claro que não, e daí as lutas agônicas, isso de morrer como um passarinho não passava de ficção. Haveria luta. Mas, e se algo ainda inexplicável pela Ciência sobrevivesse? Alma, espírito, aura, essência, o nome pouco importando. Talvez se visse morta, a boca escancarada, os olhos abertos, feia de dar dó. Depois a funerária, a maquiagem, passantes curiosos entrando, descobrindo o rosto, os comentários, os mesmos tantas vezes ouvidos. Não. Nada disso aconteceria, as providências tinham sido tomadas, pensou então na foto no túmulo. Vezes sem conta observara o mau gosto dos vivos contra os mortos indefesos, colocando nas sepulturas fotografias da extrema velhice. Como se só aquelas pudessem expressar a longa vida vivida, por vezes tão bela nos seus tantos lances, tanta beleza na mesma face em outros dias... Pensou em si mesma, rugas se cruzando na face, olhos quase sumindo nas pálpebras caídas, registradas na última foto. Colocariam essa? Fariam tal afronta? Ó crueldade... Ó povo sem coração... Escolheu algumas da juventude, anexou ao documento na gaveta. Pronto! Já podia morrer tranqüila.

PROSA NACIONAL II CONCURSO 3º LUGAR *

VINGANÇA
MARIA APPARECIDA S. COQUEMALA - ITARATÉ/Sp

Éramos de famílias de prole numerosa, de muita trabalheira, alegrias e tristezas se alternando na vida em construção. Morávamos em pequena cidade, meio perdida no sertão, surgida ao lado da via férrea, a artéria pulsante, com seus trens chegando em longos apitos, trazendo e levando gente, mercadorias, jornais... Famílias vizinhas. De um lado, o movimentado restaurante de uma; do outro, o grande armazém de secos e molhados da outra.
Crescíamos sob as vistas de nossos pais, disciplinadores rigorosos, daí os temores, as travessuras escondidas, a cumplicidade... E mais nos unindo nas brincadeiras, pique, roda, amarelinha e que tais, união com freqüência desfeita pelos desentendimentos. Somente o cirquinho despertava tamanho interesse que as desavenças desapareciam, pois havia mil encargos: mágico, palhaço, equilibrista, dançarina, venda de bilhetes, arrumação das cadeiras, cuidados com os velhos lençóis que as mães emprestavam, venda de pipoca, exibição de cabeça embalsamada de bezerro com quatro olhos... Vinham crianças das redondezas, até adultos. A pequena Josefina, seis anos, loira e graciosa, com sua minúscula sombrinha aberta era a dançarina da corda, mas corda esticada no chão, passos cuidadosos, se equilibrando, uma verdadeira artista, como se sob seus pés houvesse mesmo um negro abismo. Nem o palhaço Pirulito de nariz postiço e cabelos avermelhados por colorau conseguia distrair sua atenção. Gloriosa, chegava ao final, arrancando entusiásticos aplausos. Josefina, a Fininha, a finada, a que um dia numa foto saiu com uma negra mancha sobre o coração. Uma falha imperdoável do fotografo, criticava a família, braba, brabeza já quase apagada quando a menina deu de amarelar. Levada à cidade grande para consulta médica, voltou com usa sentença de morte, para cumpri-la entre as lágrimas desesperadas dos que a amavam. A marca, um aviso?
Entre as muitas crianças, eu e Sunta, uma de cada família, mesma idade, oito anos, gostávamos de brincar de casinha no grande quintal, onde sue pai plantava mandioca, milho, verduras, legumes e... Roseiras das quais as crianças jamais deveriam se aproximar sob pena de castigo. E era ao lado dessas roseiras que à falta de bonecas, criávamos nossas loiras ou ruivas filhinhas, configuradas nas espigas de milho verde, colhidas ali mesmo, entre porquinhos redondos metamorfoseados de batatinhas tiradas das despensas, com suas patinhas de palito de fósforo usado, boizinho de bucha colhida na trepadeira que subia generosa pelas cercas. E era nessa mesma casinha que líamos, mal entendendo, no jornal de meu pai, capítulos de O Guarani, daí as filhinhas se chamarem Ceci e Isabel e o porquinho, Peri.
E chegou o dia do aniversário de Isabel e Ceci, queríamos festejar, mas precisávamos de flores. Onde pegar? Tão perto o canteiro proibido... Não resistimos e colhemos as rosas mais lindas, brancas, amarelas, cor-de-rosa, vermelhas e com elas a alegria das cores e das formas perfeitas que deram à casinha um encanto nunca antes visto, encanto que palavra nenhuma poderia descrever. E aconteceu que o pai de Sunta foi ao quintal e viu... Viu horrorizado o sumiço das rosas. Avermelhou de raiva. Procurou o ladrão e logo o encontrou, entre batatinhas, bucha, espigas e as flores. Arrancou Sunta num repelão, tirou a cinta e bateu sem dó. Os gritos se ouviam longe. Debalde a mãe implorava que perdoasse à filha. Amedrontados, os irmãos se esconderam debaixo das camas. Só quando o vizinho chegou trazido pelos gritos, o pai a deixou, rouca e roxa, estirada no chão.
Semanas transcorreram. Foram-se as marcas do corpo, votamos a brincar, a fazer nossa casinha, buchas e batatinhas se metamorfoseando em animaizinhos queridos. Mas Isabel e Ceci não mais tinham aniversário festivo e sim surras quando desobedeciam.
Sunta não esquecia a dor. Não mais a dor física que a prostrara. Eram doridas lembranças... E por mais que procurasse, nenhuma explicação encontrava para tamanha fúria do pai. Que agora odiava. Confidenciava que um dia o faria padecer como tinha padecido e não mais sofreria se lembrando. Eu sofria o sofrimento de Sunta. E tramamos a vingança.
Todos dormiam. Sunta levantou-se cuidadosa na escuridão da noite, dirigiu-se à porta do armazém, destrancada como sempre, era parte do corpo da casa. Entrou. Levava a caixa de fósforos que eu tinha levado do restaurante do meu pai. Juntou velhos jornais, riscou o fósforo e voltou silenciosa ao quarto. Ninguém percebeu.
O pai vendia também fogos de artifício, daí que bombas explodiram, parte do telhado desabou, rojões brilharam no céu, um verdadeiro espetáculo pirotécnico se desenrolou na noite escura... A vila em peso acorreu, a solidariedade se manifestando em gente trazendo escadas, baldes, mangueiras, a água vindo de todo lado...
O armazém foi reconstruído, a família tinha outros bens.
Jamais se descobriu a causa do incêndio, um segredo que eu e Sunta não dividiríamos com mais ninguém. Sunta estava em paz. O grande agressor tinha sido punido. Sofreu muito. Outros sofreram também e eu Sunta nos entristecemos por eles.
Crescemos lado a lado, o segredo foi guardado. Sunta se casou aos dezesseis anos, um ano depois já era mãe, mais um ano e se separou. Bonita, dinâmica, talentosa, tornou-se uma grande artista de teatro.